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quinta-feira, 16 de maio de 2013

SURF NA REVISTA YOGA JOURNAL - BRASIL


O surf dá aos yogis uma
experiênca externa do Yoga.
E o Yoga dá aos surfistas o
‘algo mais’ quando eles
estão na prancha ou na vida.


j u n h o/j u l h o 2 0 1 1 yo gaj o u r n a l .co m . b r 5 5
  Por Jaimal Yogis
Trad.: Greice Costa

Enquanto volto ao meu chalé depois de surfar
horas de luz – algas verde-neon sob meus pés
e um céu rosa-escuro – nenhuma outra palavra
parecia capaz de entrar na minha mente além
de “obrigado”.
É um pensamento que tive muitas vezes no
meu tapetinho de Yoga também. Nesse caminho,
encontrei um amigo surfista fazendo uma postura
da cobra sobre uma rocha plana na praia.
“Sem o surf da tarde?”, perguntei surpreso a
Glen, que nunca perde uma session nas ondas.
“Ah, mas já estou lá agora mesmo! Estou
surfando”, ele sorri.
Rio e continuo a caminhada. Sinto que
surf e Yoga são conectados desde que os
primeiros polinésios se sintonizaram com o
oceano em suas pranchas de madeira enormes
e os primeiros yogis na Índia começaram a se
banhar diariamente no Ganges. Os dois povos
começaram essas tradições há milênios e ambos
praticam por espiritualidade e vitalidade.
Hoje as duas práticas e filosofias de vida são
mais populares do que nunca, com milhões de
adeptos pelo mundo, e estão se encontrando
em diversos caminhos. Kelly Slater, dez vezes
campeão mundial, pratica Yoga regularmente
e consegue encostar o topo da cabeça nos
calcanhares em um glorioso rajakapotasana
(postura do pombo real). Professores
conhecidos como Shiva Rea organizam
retiros de Yoga e surf pelo mundo. Big riders
brasileiros como Carlos Burle (veja entrevista
a seguir) e Alex Martins creditam seu
desempenho em ondas maiores do que prédios
de seis andares a práticas diárias de Yoga.
É óbvio que surf e Hatha Yoga
complementam-se fisicamente. Ambos podem
ser realizados em grupo ou em solitude e
silêncio. Ambos requerem força, flexibilidade
e muito equilíbrio. Ambos atraem amantes da
natureza e mantêm seus devotos jovens, fortes
e vibrantes.



Momentos místicos 
Mas Yoga e surf têm intersecções nos planos mentais e espirituais
também. “Ambos o mantêm muito presente”, diz o surfista
Taylor Knox, que credita à sua prática de Bikram e de meditação
a fonte de energia para continuar competindo aos 38 anos,
há 16 no circuito mundial. Esse foco e presença necessários para
surfar em uma onda – um movimento sempre espontâneo – é
geralmente descrito por surfistas como um tipo de experiência
mística que os yogis descrevem por milênios: uma fusão do sentido
do self, do ego ou do “eu” com seus arredores.
“Eu não sabia onde eu terminava e a onda começava”, escreve
Steven Kotler em suas memórias surfísticas, West of Jesus, enquanto
é impulsionado sem esforço em um turbilhão em espiral de água.
Ou, como a professora de Yoga e surfista Peggy Hall coloca:
“Somos unificados com a energia do mar”.
A presença que você desenvolve em uma prática de Yoga
serve aos surfistas também nos momentos de tédio, já que normalmente
a maioria do tempo no surf é de espera e de remadas,
mais do que surfando de fato. A técnica yóguica de observar a
respiração pode transformar longas calmarias entre as séries das
ondas em uma meditação focada. E o simples ato de estar com
sensações desafiadoras física ou mentalmente durante a prática
de posturas pode treiná-lo a repelir a frustração de surfar em
mares cheios de surfistas.
Surfistas-yogis entendem que as duas experiências trocam entre
si. “Comecei a surfar muitos anos antes de praticar Yoga, mas
surfar me deu uma experiência de ‘Yoga’. Uma vez que comecei
a praticar Yoga, reconheci o mesmo tipo de fluxo de consciência
‘no momento’”, diz o professor de Ashtanga Yoga Tim Miller.
Em Yoga, observamos e até movemos as ondas de energia dentro
de nós, conhecida como prana, ou “força vital”. Surfando, sentimos
a onda de energia externa que tocamos durante a prática de Yoga.
Sendo surfista ou não, aprender sobre essa metáfora pode nos
ajudar a levar uma vida yóguica. Lá atrás, nos anos 60, havia nos
EUA um pôster de Swami Satchidananda, fundador do Yoga Integral,
com barba e vestes brancas surfando uma onda havaiana.
Dizia: “Você não pode parar as ondas, mas pode aprender como
surfar”. Os dizeres tratam de um ensinamento yóguico chave sobre
a mente: enquanto você não está apto a acalmar a sua mente em
estabilidade permanente e elevada, pode aprender a se relacionar
com as infinitas ondas de pensamento de uma maneira mais livre
e habilidosa para surfá-las com graça.
Surfar pode ensinar yogis a aceitar as ondas boas e más ao vê-las
como impermanentes. Nós todos temos ondas contínuas de pensamento,
experiência e emoção – ondas de tristeza e de alegria, medo
e amor. São constantes. Ainda que haja uma tendência arraigada
de pensar que a parte “profunda” de nós mesmos, a parte que sentimos
depois, digamos, uma grande aula de Yoga ou uma sessão de
surf no pôr do sol de Bali, é acessível apenas durante as boas ondas;
e mantemos um viés tão forte para termos essa experiência que o
resto da vida – as ondas menos bonitas – pode se tornar trabalho.
Surfando, você aprende que até as ondas mais imperfeitas são
compostas da mesma substância, a mesma água salgada linda
que forma as ondas perfeitas, e ambas podem ser experimentadas
em sua totalidade. Surf, como Yoga, é um encontro desafiador

e válido dia após dia, não importam as condições.



Yogi
nas ondas e na vida
O big rider pernambucano
Carlos Burle é campeão mundial
de ondas grandes na remada e tow-in.
E é um yogi também. Mantém uma
prática constante desde os 13 anos
de idade: “Sempre pratiquei, às vezes
com mais intensidade ou só para
manter o contato com o Yoga. Mas
pelo menos um pouco, todos os dias.
Me ajuda a manter a mente calma e o
corpo saudável”. Encarar os grandes
desafios, entender bem o seu meio,
respeitar a natureza, saber a importância
dos relacionamentos e se
superar é o que faz de Carlos Burle
uma grande referência no mundo
d as águas.
Por Vicente Morisson
Quando você se interessou em surfar
ondas grandes e por quê? Sempre
gostei de desafios na minha vida, não
tenho uma data certa.
Sabemos que você pratica Yoga. O que
o levou a começar essa prática? Busca
do autoconhecimento.
Você tem uma prática de Yoga específica?
Gosto mais de Hatha. Ele me
remete aos bons momentos de quando
comecei. Yoga para mim tem a ver
com calma, concentração e leveza. Os
exercícios pesados deixo para outras
práticas.
Algo mudou desde que você começou
a praticar? O quê? Fiquei mais consciente
do meu corpo, de como poderia
usá-lo para competir e interagir com o
mundo.
No que a prática de Yoga ajuda no surf
e na sua vida? Consciência corporal e
c oncentração.
Você pratica algum tipo de pranayama
(expansão e domínio da energia vital
através de técnicas respiratórias)? No
que ele contribui além do desempenho
físico? Pratico nadi shodhana (pranayama
de respiração alternada). Ele me traz
clareza da mente, tranquilidade e concentração.
A meditação faz parte da sua prática?
Que tipo de meditação você pratica?
Sim. Meditação transcendental.
Você já enfrentou alguma situação de
risco no mar? Como lidou com ela? Foram
tantas.... O importante é manter a
calma.
Você leva algum tipo de experiência do
mar para o seu dia a dia? Sim. Superação
dos medos é uma delas.
Quem são suas grandes referências no
mar e fora dele? Pessoas equilibradas,
que fazem o bem para os outros.
Qual é a sua preferência alimentar?
Você faz algum tipo de acompanhamento
nutricional? Prefiro alimentos naturais,
orgânicos, mas como nem sempre
posso escolher, digo que como de tudo.
Como você vê a relação entre o homem
e o mar hoje em dia? Mudou muita coisa?
O homem não respeita o mar como
deveria. É mais uma relação de consumo,
exploração e menos consciência.
Você atua em alguma causa em defesa
do meio ambiente? Acho muito importante
esse tipo de atividade. Meu grande
apoio está no meu exemplo do dia a
dia. Procuro não deixar rastro e sempre
recolho o lixo que posso carregar nas
praias. Planto árvores para compensar
meus gastos de gás carbônico emitidos
em viagens e treinos com jet ski.
Você apoia alguma entidade que cuida
dos mares e oceanos? Tenho acompanhado
o trabalho da SOS Mata Atlântica.
Eles atuam muito em áreas de
preservação. Gosto dessa filosofia.
Qual é o seu maior desafio e objetivo
na profissão hoje? Manter o equilíbrio
entre as viagens e conciliar família, viagens
e negócios.
Qual é o lugar mais especial em que já
surfou? Na Pororoca (Brasil).
Além do surf, o que mais gosta de fazer
nas horas vagas? Relaxar, encontrar os
amigos, ter uma boa conversa.
Qual é o significado do mar para você?
É minha vida, onde tudo começou.
Como você trabalha a sua espiritualidade?
Seguindo meus valores, tentando
não me vender ao sistema, praticando o
bem, rezando e agradecendo.
O que você considera essencial para
se viver bem? Tem de ter amor no coração.
Que dica você daria para quem está
começando a surfar? Respeite você
mesmo, os outros, o ambiente e divirtase
bastante!
Entrevista publicada no blog vedantayogaeomar.





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